A recente movimentação estratégica da Ubisoft, que envolveu a criação de uma nova subsidiária em parceria com a Tencent, marca um momento pivotal na história da empresa francesa, conhecida por suas icônicas franquias de videogames. Em março de 2025, a Ubisoft anunciou que três de suas maiores propriedades intelectuais — Assassin’s Creed, Far Cry e Tom Clancy’s Rainbow Six — seriam transferidas para essa nova entidade, avaliada em €4 bilhões. A Tencent, gigante chinesa do entretenimento digital, investiu €1,16 bilhão para adquirir 25% dessa subsidiária, consolidando ainda mais sua influência no mercado ocidental de jogos. Mas o que motivou essa decisão e como ela se conecta ao lançamento de Assassin’s Creed Shadows?
Nos últimos anos, a Ubisoft enfrentou uma série de desafios financeiros e criativos. Títulos como Star Wars Outlaws e Skull and Bones não atenderam às expectativas de vendas, enquanto XDefiant foi encerrado poucos meses após seu lançamento, evidenciando dificuldades em diversificar seu portfólio e manter a relevância em um mercado competitivo. As ações da empresa sofreram quedas significativas, e a pressão de acionistas por mudanças estruturais tornou-se inevitável. Nesse contexto, Assassin’s Creed Shadows, lançado em 20 de março de 2025, emergiu como uma espécie de teste decisivo para a Ubisoft — um título que precisava não apenas resgatar a confiança dos fãs, mas também provar o valor comercial da franquia em meio a especulações sobre o futuro da empresa.
Shadows, ambientado no Japão feudal, chegou ao mercado com grande expectativa e, de fato, alcançou números impressionantes: mais de 2 milhões de jogadores em poucos dias, superando os lançamentos de Assassin’s Creed Origins e Odyssey. A Ubisoft celebrou esse sucesso inicial, destacando-o como a segunda maior estreia da história da franquia. Apesar de não divulgar vendas exatas, o desempenho sugere que o jogo foi bem recebido, especialmente após ajustes como o patch do dia um, que respondeu a controvérsias culturais no Japão. Esse êxito pode ter funcionado como um catalisador para a decisão de “cristalizar o valor” de Assassin’s Creed e suas irmãs de alto perfil, como afirmou o CEO Yves Guillemot.
A criação da subsidiária, portanto, parece ser uma resposta direta ao desempenho de Shadows. O sucesso do jogo reforçou a percepção de que essas três franquias são o “ouro” da Ubisoft, justificando a estratégia de isolá-las em uma entidade à parte, mais ágil e focada, enquanto a empresa-mãe redireciona esforços para outras IPs, como Ghost Recon e The Division. A entrada da Tencent como investidora minoritária não apenas injeta capital para aliviar as dívidas da Ubisoft, mas também sinaliza uma aposta no potencial global dessas marcas, especialmente em mercados como o asiático, onde a Tencent tem forte presença.
Entretanto, a correlação entre a venda e Shadows também levanta questionamentos. Embora o jogo tenha tido uma estreia forte, seu impacto a longo prazo ainda é incerto — será ele suficiente para sustentar a nova subsidiária e justificar o investimento bilionário? Críticas sobre a repetitividade da fórmula de Assassin’s Creed persistem, e o histórico recente da Ubisoft sugere dificuldades em manter o ímpeto pós-lançamento. Além disso, a parceria com a Tencent, conhecida por priorizar modelos lucrativos como free-to-play e microtransações, pode alterar a essência criativa dessas franquias, algo que preocupa os fãs mais tradicionais.
Em resumo, a venda parcial das franquias da Ubisoft para uma subsidiária com participação da Tencent reflete tanto uma reação ao sucesso imediato de Assassin’s Creed Shadows quanto uma tentativa de reestruturação diante de anos turbulentos. Shadows provou que a franquia ainda tem fôlego, mas o futuro dessa nova configuração dependerá de como a Ubisoft e a Tencent equilibrarão ambição comercial e fidelidade à identidade que tornou essas séries tão queridas. Para os jogadores, resta a esperança de que essa mudança traga inovação, e não apenas mais capas recicladas na esteira de um capuz famoso.